terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sem palavras
Era uma manhã ensolarada, mas nada deu certo. As pedras não saíram do caminho e a bagagem, que deveria ter ficado por excesso de peso, conseguiu passar pela alfândega do cerne. Eram mais ou menos 37kg de peso.
Para o entretenimento - era com o que ele mais se preocupava - só tinha 2 madeiras e um pedaço de bambu. O problema é que ele era metropolitano. Para ele nada é espírito, nada era natural. O pé não podia tocar o chão, o intermédio era a sola do sapato. O limite era a ponta do seu nariz.
Ele resolveu se matar, mas não conseguiu. Ele experimentou, pela primeira vez, o que era saber que não controlava sem sua vida.
Eram 3 da tarde e era certo: ele não mandava em nada, ele não conseguia nada. 3:03 ele resolveu mudar. Vagou, vagou e vagou. Decidiu correr.
E numa tarde fria ele correu.
De novo...
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Os amigos de bairro
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Sejamos menos pretenciosos
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Se é assim, eu mando um bilhete pra didi
O Paulo está na meia-idade. Ele é curvo, ele é pequeno. Tem um olhar mórbido e é esquelético. Quase ninguém olha pra ele. Ele é quase sem virtude alguma - quase. Paulo carrega 1 tronco de árvore que pesa mais que seu peso por 2 ou 3km. Ele, que morava em Garituba, voltou pra lá agorinha pouco ,faz 1mês . Passou 3 anos sem exercer sua excelencia, na verdade, não fazia nada.
Comia com dinheiro apostado, dormia com dinheiro apostado. Como a jogatina não é um campo que ele domina, as vezes não comia, muito menos dormia.
Quando chegou no Rio, era um poeta - fracassou. Virou pintor, não deu certo. Quando inspetor roubava a merenda das crianças - foi demitido. Virou andarilho - desistiu.
Na sua volta pra Garituba ele só pensa nos troncos que pode carregar. Na paz da floresta, no sabor do campo.
Garituba é campo e praia. Onde Norte e Sul. É sol e nublado. É tudo, mas é quase nada.
Quando Paulo chegar, vai mandar um bilhete pra Didi. Didi é uma companheira, uma amiga que Paulo arranjou. Didi certamente ficará contente em saber da desventura de seu amigo. O bilhete que ele ia escrever era assim:
"Didi, se eu tivesse triste, saberias
se tivesse arrependido, saberias
se soubesse o que passei louvarias
mais do que eu, a mim mesmo
Hoje sou mais pelo Rio,
mas não pretendo nem pensar
do Rio sendo modificado por mim.
Voltarei a carregar meus troncos."
E assim ele fez.
Nasceu, morreu, renasceu e morreu.
Fim.
domingo, 26 de setembro de 2010
Maldito Sufrágio Universal - como faço para votar esse ano?
As eleições batem na nossa porta esse ano como os escoteiros de filmes americanos vendendo doces. Você não quer comprar, mas acaba comprando.
domingo, 12 de setembro de 2010
O vidro emoldurado
Eu acho que todos têm uma janela.Eu tenho, você tem.Existem os conjuntos de janelas, os prédios. As crianças –ah, as crianças sempre tem tudo - quando perdem o dente, ganham uma nova janela. Até a tecnologia imita a janela... o ‘Janelas’(Windows), as câmeras de vídeo/fotografia e a televisão. Até os prisioneiros tem uma janela - mesmo que só tenham ela e à ela. Os que merecem menos, os corruptos ,tem janelas também - Ah, como tem janelas. Pulam, saltam, confundem-se com elas. São verdadeiros camaleões que criam janelas na lei pra fazer do Brasil uma grande janela de fome e miséria (e futebol , para ser menos dramático)
Quem não aprecia a janela, não aprecia a vida. Pela janela podemos ver sem nem sermos vistos. Se por acaso nos veem, somos mais alguém praticando esse exercício de aprendizado – a observação. Podemos também filmar com a retina cenas que ninguém nunca verá - isso se por sorte não forem parar no youtube, a janela digital.
As janelas são necessariamente necessárias, me desculpe, mas são... As escadas rolantes, os elevadores, as esteiras ...todos tem sua importância. Mas nenhum chega perto de uma janela.
A minha janela é normal... A posição dela também. Infelizmente, ou até felizmente. Não está de frente pro Cristo, ele fica pro outro lado do apartamento. Também não está de frente pra praia –uma pena!Mas felizmente está onde está, por que com essas distrações o que realmente importa não seria notado pelo meu frágil olho humano, que por ser masculino se tornou mais frágil ainda. Facilmente deixariam outros ventos atrapalharem a percepção ,que na verdade não existe e que eu inventei. Invenção que sai de um lugar e transpira em outro; da janela para a porta.
Não incentivo ninguém a viver atrás de janelas. Para interpretar o que ela mostra é preciso sair dela também. Elas são a ferramenta e não a obra.