Nas universidades, lugar da suposta elite intelectual, a cegueira é muito maior do que se pode pensar. A preocupação é rasa e direcionada só para um futuro existente. Eu vejo poucos que se preocupam em adquirir conhecimento para executar as futuras tarefas e muitos querendo ganhar uma profissão, só uma profissão. Além disso, os ícones da faculdade sumiram. Ninguém pega o facão e abre uma nova trilha. As pessoas estão muito ocupadas com nada.
Os caretas: querem ser advogados, abrir um escritório e achar gente pra ocupar o lugar que eles ocupam agora: estagiários que querem abrir um escritório. Quando jornalistas, querem trabalhar na Globo, participar de mesas redondas no Sportv ou apresentar um programa muito bacana no Multishow. Quando administradores, ou já tem futuro certo administrando a empresa do pai ou ignoram todo tipo de conhecimento ao redor e se focam em ser milionários no estilo 50-cent do custe-o-que-custar. Os publicitários defendem a organização mundial contemporânea. Admiram tanto que fazem de suas vidas, de toda sua produção intelectual, um imenso portifólio da mais pura merda na qual vivemos hoje. Os médicos, cineastas, farmacêuticos, engenheiros etc. só fazem o que já foi feito e no máximo evoluem junto com seus pares.
Cada vez mais os doidões fazem coisas de careta e os caretas coisas de doidão. Não consigo enxergar uma divisão muito clara do que seriam os “desbundados”. Os doidões enchem a cara, assim como os caretas. Fumam maconha e cheiram pó, como os caretas. Os doidões têm Facebook e eventualmente promovem encontros que tem o mesmo molde de qualquer festa careta, mas com muito mais drogas. As movimentações dos doidões são só pra eles terem um pouco mais de espaço. Os doidões querem transformar alguma coisa em outra, eles só ainda não sabem o que. Muito menos como.
É muito frustrante estar no meio disso e querer fazer alguma coisa. Me faz não fazer nada também. É errado, mas é isso. Provavelmente tem mais gente pensando assim, talvez muito mais do que eu imagine. Mas tem alguma coisa puxando todo mundo pra baixo. Deve ser um gás de conformismo e aceitação de umademocracia amputada. Um marasmo em que, ao mesmo tempo que os tímpanos são altamente desgastados, se pode não ouvir absolutamente nada nas ruas.
“Um campo de força é construído por mim. Os que me cercam protegem e me cegam do que há de pior. Apesar da barreira, deve-se entender o mundo fora dela. Se a concepção é individual sempre, a prática é em equipe.
Como ninguém percebe a manipulação?”
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