- As vezes eu me sinto como uma criança.
- É como redescobrir o que se aprendeu.
Numa janela vazia saía João. O único filho de Lurdes, esposa do
Cabral. Ele passou a infância inteira atrás de grades. Cada fio de
ferro era transparente, o que fazia ela mais poderosa ainda. As
amarras com o tempo foram se soltando, talvez um pouco antes dele sair
da grade, mas essa é outra história. Às vezes os pedaços transparentes
ficavamm mais escuros, mas João estava acostumado com as visões e
depois de pouquíssimo tempo, desde que se entendia por gente, já
estava completamente inconsciente.
Lá pelos 14 anos ele começou a descobrir que as suas visões se
tratavam de grades. Ele não entendia! Por que grades? Quem havia
colocados elas ali?
Até os 16 lutava contra o sentimento de normalidade em relação à sua
situação. Dos 18 aos 22 acreditou em tudo. Em tudo mesmo. Que a
verdade podia ser tudo...mas como?
Vamos voltar aos 16, desculpe. A inclinação para o que é "errado"
sempre foi uma grande questão.A sua posição pessoal forte também era.
João acreditava que "qualquer um faria aquilo" e então ele escolhia. A
equação dessas duas condições resultou em parâmetros de certo e errado
totalmente individuais, que excluíam qualquer tipo de pressão externa. Quando assimilou isso, João
começou a acreditar que as visões eram mais do que uma condição, era
outra pessoa falando dentro dele.
- Ah, tudo parece novidade e não é, mas é.Eu quero sofrer! Eu quero gritar!!!
- Você tem tudo, João. Mas ainda falta muito mais pra você ver.
E João continuou sua saga. Viveu abertamente dos 22 aos 28.Dos 30 aos
50 ele ganhou e perdeu: mulher, carro, dívida, filho, filha, no bicho,
casa, casa do campo, barba, cabelo branco. E nunca teve UM PUTO!
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
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